7 Meses na América do Sul

A PUC de Santiago, o Direito chileno, o pisco e as empanadas, os Andes, o Pacífico, a Sudamérica, Rapa-Nui ... enfim, La Libertad.


6.2.08

Bariloche, Israel

E quando acordámos estávamos em San Carlos de Bariloche, Argentina.

[14 a 16 de Janeiro de 2008]

Ou seria Gstaad, Suiça? Ou Telavive, Israel?

Como tudo na vida, o que se absorve de sítios que se väo conhecendo depende das pessoas que lá se encontram, do que se prova, daquilo que acontece. Como para Ortega y Gasset o homem é o homem e a sua condiçäo, para quem viaja um ponto de paragem é o sítio e as suas circunstâncias.

Comparar com Gstaad é fácil de adivinhar quem conhece ou lê um pouco sobre San Carlos de Bariloche. Telavive, estarei louco? Digam-me vocês, depois de passarem, como nós, duas horas e meia de mochilas às costas, nas empinadas ruas da melhor estância de ski da Argentina (Gstaad, portanto), e acabarem nas últimas duas camas de um hostel em que, para além de dois tugas e dois equatorianos o resto do hostel é israelita ou judeu.

Jogava-se Taki (Uno), comia-se comida kosher (e nós com entradas de presunto antes de cada jantar de carne argentina comprada com antecipaçäo gulosa no supermercado), falava-se hebraico e a homepage dos computadores do hostel era o Il Gringo (que viemos a saber que é "O" guia dos judeus que viajam), nesse mesmo idioma. Discutimos abertamente o problema Israel - Palestina com uma das backpackers, sem compromissos. Conhecemos uma realidade juvenil diferente, que os israelitas da nossa idade têm todos 2 ou 3 anos de serviço militar (mulheres ou homens), antes de terem um dia, uma aula, um exame, uma cadeira feita da faculdade.

Do outro lado, de Bariloche mesmo, que acorda todos os dias radiante entre as montanhas com píncaros de neve ainda no Veräo e o Lago Nahuel Huapi brilhando azuläo, estávamos mais tranquilos. Sabíamos o que esperar. O porto de Bariloche desilude, comparado com a cidade, mas as ilhas e bosques que conhecemos (mais um tour de "homem branco de meia idade") agarram-nos. Já nos imaginamos neste "quiet peace of land", daqui a 25-30 anos, alternando entre a escrita das nossas Memórias de cachimbo na boca e as pescarias no lago e caçadas na floresta.

Por essa hora era tempo de seguir viagem rumo ao Norte, entrando de novo no Chile. Confesso que sentia um arrepio de excitaçäo à medida que sentia a minha Santiago, lar adoptivo, mais perto. Terá o Bessa apercebido-se disso? Quase de certeza. Ao menos deixou-me viver a minha antecipaçäo do regresso a Casa numa inocência quase de criança em época de Natal, ansiando abrir aquela bicicleta cuja forma se vê distintamente, pelo tosco embrulho ao lado da Árvore. Santiago já a via, encostada aos Andes como Bariloche, mas virada para o Pacíico, sem lagos e sem o hostel surreal. Sem Hostel Israel mas com Casa Suecia.

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