João Garcia, o maior alpinista português de todos os tempos, decidiu, aos 15, 16 anos, inscrever-se no Clube de Montanhismo da Guarda. O maior problema, o facto de morar em Lisboa, não o impediu. Pegou na sua bicileta, num boião grande de doce, nalgum, pouco, dinheiro para comprar pão pelo caminho, e lá foi ele. Demorou três dias. A partir daí os seus feitos foram sempre a subir (literalmente). Esta história, no entanto, apaixonou-me logo de início e tenho uma grande admiração por ele, tanto pelo adolescente maluco como pelo adulto recordista.
Faixa 03. The Killers - Mr. Brightside (Live)
Em Pucón, pequeno pueblo na margem do Lago Villarica e no sopé do Vulcão com o mesmo nome. Menos de 24 horas depois de lá ter chegado, já estava a seguir as pisadas ao alpinista. Não, não andava de doce de morango no bolso, mas sim a subir a uma montanha. Mas vamos por partes (já dizia Jack, O Estripador). [ah!já faltava uma piada seca no blog]
Depois de uma viagem de noite de TurBus, de sexta para sábado, em que pouco dormi, e a Sanchinha menos ainda, chegámos a Pucón. A TurBus oferece vários serviços, desde o clássico - autocarro normal - até ao Premium - com camas. A nós calhou-nos o primeiro e, apesar dos bancos serem mais espaçosos e reclináveis que em autocarros normais ou em aviões, não era grande substituto de um colchão. Por isto, mal demos por nós na residência, fomos dormir, enquanto os outros portugueses, chegados dois dias antes, já se aventuravam a subir ao vulcão. Este dia passámo-lo depois numa almoçarada tardia (um hábito enquanto ela cá esteve, o que veio ajudar ào meu aumento de peso, já tendencial antes) e num pôr-do-sol (voltaram os pôr-do-sol) espectacular por cima do Lago. Depois disto encontrámo-nos com os portugueses, queimados do sol, desfeitos de cansaço mas com aquele ar de felicidade próprio de quem se supera a si próprio. Motivaram-nos a ir subir ao vulcão, e foi assim que conhecemos a Spirit.

[em Pucón, com o Vulcão Villarica lá atrás]
Chegámos à agência de tours estavam a fechar as portas mas acolheram-nos com um sorriso. Queríamos subir ao vulcão mas só na segunda-feira, para nos habituarmos à ideia e abrir os pulmões com os ares do Lago. Pero...
«Mañana es el día»
Esta frase foi decisiva. Que o tempo ia fechar segunda-feira, e que domingo estaria perfeito, ainda melhor que sábado. Eu, motivado, e a Xinha, receosa, lá aceitámos. Vamos.
O dia seguinte, o da escalada, começou cedo. Ainda não eram sete da manhã e estávamos a sair do hostel. Paragem na Spirit para equipar, por o nosso farnel de supermercado nas mochilas e listos. Lá fomos nós, com 3 guias - Miguel, César y José Tomás (ou el Pato) - e um grupo de 6 pessoas (dois portugueses -nós, um inglês a viajar antes de tirar o curso de Direito, um francês que trabalha no Chile e um casal de holandeses que vim a descobrir depois que eram famosos -link.).

[a Xinha, já física e mentalmente preparada para subir ao Vulcão]

[de certeza que estamos a pensar na mesma coisa]
Estava determinadíssimo a subir ao cume e penso que foi isso que me ajudou a ultrapassar as dificuldades todas. O frio, primeiro, depois o calor, o peso do equipamento, as dores nas pernas, o enterrar na neve, o ar rarefeito. Houve mesmo ali um período de quinze, vinte minutos em que duvidei, altura da subida mais íngreme, que chegasse ao fim. Mas consegui, e valeu a pena. A Sanchinha, à sua medida, superou-se e, depois de três estações/paragens em que disse que desistia, chegou a 2/3 do total. Muito corajosa, e muito feliz no fim do dia. Como nos separámos, deixei-lhe a máquina fotográfica por isso as minhas fotografias do topo são cortesia dos Fietsers in Actie - a tal dupla de holandeses famosos, que está a dar a volta à Sudamérica de bicicleta e que angaria patrocínios pela net para ajudar projectos sociais nos vários países (agora, construir uma escola numa aldeia no Peru).

[a Xinha conquista a montanha]

[en plena Cumbre]

[do alto deste Vulcão, 40 outros vos contemplam]

[desfeitos, mas heróicos]
Faixa 04. The Kooks - Naive
À noite, ida às Termas Los Pozones, para relaxar os músculos. Um final de dia de comunhão perfeita com a natureza, desde os desafios que nos pôs no vulcão até acolher-nos nas águas quentes e no vapor, sempre com um céu sem fim por cima.

[descanso do guerreiro]
Dia seguinte, hora de fugir mais para Sur. Para Castro, capital de Chiloé. Esta é a segunda maior ilha da Sudamérica, a seguir à Tierra del Fuego, embora seja também um arquipélago, com dezenas de ilhas habitadas mais pequenas. Geograficamente é já Patagónia, mas, apesar do frio e da humidade, não há neve e a paisagem é mais de Irlanda, como muito gostam os chilenos de comparar. Os chilenos do continente, porque os chilotes vêem-se a si como únicos, com a sua mitologia, História e culturas próprias.
Para lá chegar tivemos de fazer um desvio para a costa, para Valdívia. Lá chegámos ao princípio da noite e mal saímos do bus fomos bombardeados por pessoas a oferecer alojamento. No meio da confusão, depois de confirmarmos referências num cyber-supermercado dentro do Terminal de Buses, acabámos por escolher a residência de uma jovem, a cinco minutos a pé do centro e a cinco do dicho Terminal. Mas algo de estranho se passou e demos por nós estávamos num táxi com uma velhinha com voz esganiçada, quase imperceptível, com um daqueles ares exteriormente inofensivos e que por isso mesmo nos fazia desconfiar. Íamos dormir à sua cabañita.
Bom, não sei se me perdi na tradução, mas "cabañita" não corresponde a um quarto dentro da casa da senhora, num bairro já longe do centro. É que já cá estou há quase três meses e já sei umas coisas de espanhol. Umas coisas, poucas, ao menos. Mas já lá estávamos e, atravessando um hall/quarto em obras, com um forte, mesmo agoniante, cheiro a tinta, lá encontrámos o quarto destinado, com "baño privado". Vá lá, não tivemos de partilhar a casa de banho com a velhinha e o misterioso filho, que nos abriu a porta mas se escapuliu rapidamente para o andar de cima. Algo de Psycho se passava aqui.

[expressão da felicidade pelo barrete que nos enfiaram]
Acabámos por ficar lá, mas fugimos para o centro para ir comer qualquer coisa. E ainda bem. Valdívia, tão elogiada nos guias e pelos próprios chilenos, pareceu-nos uma cidade tristonha e feia, cinzentona. A vida estudantil pela qual é conhecida, contudo, lá a encontrámos num restaurante/bar/ponto de encontro cheio e animado, sugerido pelo inevitável Lonely Planet. Lá nos atulhámos de sandwiches gigantes, regadas a sumo ou cerveja.

[o café La Última Frontera, ponto hip de Valdívia]
No fim, lá nos resignámos a seguir o pedido da senhora - «a las doce en casa, chicos!» (repetir em voz alta, num volume baixo mas da forma mais esganiçada possível). Chegados, dormidos, fugidos dali rapidamente às oito da manhã. Para Chiloé, Patagónia insular.
Faixa 03. The Killers - Mr. Brightside (Live)
Em Pucón, pequeno pueblo na margem do Lago Villarica e no sopé do Vulcão com o mesmo nome. Menos de 24 horas depois de lá ter chegado, já estava a seguir as pisadas ao alpinista. Não, não andava de doce de morango no bolso, mas sim a subir a uma montanha. Mas vamos por partes (já dizia Jack, O Estripador). [ah!já faltava uma piada seca no blog]
Depois de uma viagem de noite de TurBus, de sexta para sábado, em que pouco dormi, e a Sanchinha menos ainda, chegámos a Pucón. A TurBus oferece vários serviços, desde o clássico - autocarro normal - até ao Premium - com camas. A nós calhou-nos o primeiro e, apesar dos bancos serem mais espaçosos e reclináveis que em autocarros normais ou em aviões, não era grande substituto de um colchão. Por isto, mal demos por nós na residência, fomos dormir, enquanto os outros portugueses, chegados dois dias antes, já se aventuravam a subir ao vulcão. Este dia passámo-lo depois numa almoçarada tardia (um hábito enquanto ela cá esteve, o que veio ajudar ào meu aumento de peso, já tendencial antes) e num pôr-do-sol (voltaram os pôr-do-sol) espectacular por cima do Lago. Depois disto encontrámo-nos com os portugueses, queimados do sol, desfeitos de cansaço mas com aquele ar de felicidade próprio de quem se supera a si próprio. Motivaram-nos a ir subir ao vulcão, e foi assim que conhecemos a Spirit.
[em Pucón, com o Vulcão Villarica lá atrás]
Chegámos à agência de tours estavam a fechar as portas mas acolheram-nos com um sorriso. Queríamos subir ao vulcão mas só na segunda-feira, para nos habituarmos à ideia e abrir os pulmões com os ares do Lago. Pero...
«Mañana es el día»
Esta frase foi decisiva. Que o tempo ia fechar segunda-feira, e que domingo estaria perfeito, ainda melhor que sábado. Eu, motivado, e a Xinha, receosa, lá aceitámos. Vamos.
O dia seguinte, o da escalada, começou cedo. Ainda não eram sete da manhã e estávamos a sair do hostel. Paragem na Spirit para equipar, por o nosso farnel de supermercado nas mochilas e listos. Lá fomos nós, com 3 guias - Miguel, César y José Tomás (ou el Pato) - e um grupo de 6 pessoas (dois portugueses -nós, um inglês a viajar antes de tirar o curso de Direito, um francês que trabalha no Chile e um casal de holandeses que vim a descobrir depois que eram famosos -link.).
[a Xinha, já física e mentalmente preparada para subir ao Vulcão]
[de certeza que estamos a pensar na mesma coisa]
Estava determinadíssimo a subir ao cume e penso que foi isso que me ajudou a ultrapassar as dificuldades todas. O frio, primeiro, depois o calor, o peso do equipamento, as dores nas pernas, o enterrar na neve, o ar rarefeito. Houve mesmo ali um período de quinze, vinte minutos em que duvidei, altura da subida mais íngreme, que chegasse ao fim. Mas consegui, e valeu a pena. A Sanchinha, à sua medida, superou-se e, depois de três estações/paragens em que disse que desistia, chegou a 2/3 do total. Muito corajosa, e muito feliz no fim do dia. Como nos separámos, deixei-lhe a máquina fotográfica por isso as minhas fotografias do topo são cortesia dos Fietsers in Actie - a tal dupla de holandeses famosos, que está a dar a volta à Sudamérica de bicicleta e que angaria patrocínios pela net para ajudar projectos sociais nos vários países (agora, construir uma escola numa aldeia no Peru).
[a Xinha conquista a montanha]

[en plena Cumbre]

[do alto deste Vulcão, 40 outros vos contemplam]
[desfeitos, mas heróicos]
Faixa 04. The Kooks - Naive
À noite, ida às Termas Los Pozones, para relaxar os músculos. Um final de dia de comunhão perfeita com a natureza, desde os desafios que nos pôs no vulcão até acolher-nos nas águas quentes e no vapor, sempre com um céu sem fim por cima.
[descanso do guerreiro]
Dia seguinte, hora de fugir mais para Sur. Para Castro, capital de Chiloé. Esta é a segunda maior ilha da Sudamérica, a seguir à Tierra del Fuego, embora seja também um arquipélago, com dezenas de ilhas habitadas mais pequenas. Geograficamente é já Patagónia, mas, apesar do frio e da humidade, não há neve e a paisagem é mais de Irlanda, como muito gostam os chilenos de comparar. Os chilenos do continente, porque os chilotes vêem-se a si como únicos, com a sua mitologia, História e culturas próprias.
Para lá chegar tivemos de fazer um desvio para a costa, para Valdívia. Lá chegámos ao princípio da noite e mal saímos do bus fomos bombardeados por pessoas a oferecer alojamento. No meio da confusão, depois de confirmarmos referências num cyber-supermercado dentro do Terminal de Buses, acabámos por escolher a residência de uma jovem, a cinco minutos a pé do centro e a cinco do dicho Terminal. Mas algo de estranho se passou e demos por nós estávamos num táxi com uma velhinha com voz esganiçada, quase imperceptível, com um daqueles ares exteriormente inofensivos e que por isso mesmo nos fazia desconfiar. Íamos dormir à sua cabañita.
Bom, não sei se me perdi na tradução, mas "cabañita" não corresponde a um quarto dentro da casa da senhora, num bairro já longe do centro. É que já cá estou há quase três meses e já sei umas coisas de espanhol. Umas coisas, poucas, ao menos. Mas já lá estávamos e, atravessando um hall/quarto em obras, com um forte, mesmo agoniante, cheiro a tinta, lá encontrámos o quarto destinado, com "baño privado". Vá lá, não tivemos de partilhar a casa de banho com a velhinha e o misterioso filho, que nos abriu a porta mas se escapuliu rapidamente para o andar de cima. Algo de Psycho se passava aqui.
[expressão da felicidade pelo barrete que nos enfiaram]
Acabámos por ficar lá, mas fugimos para o centro para ir comer qualquer coisa. E ainda bem. Valdívia, tão elogiada nos guias e pelos próprios chilenos, pareceu-nos uma cidade tristonha e feia, cinzentona. A vida estudantil pela qual é conhecida, contudo, lá a encontrámos num restaurante/bar/ponto de encontro cheio e animado, sugerido pelo inevitável Lonely Planet. Lá nos atulhámos de sandwiches gigantes, regadas a sumo ou cerveja.
[o café La Última Frontera, ponto hip de Valdívia]
No fim, lá nos resignámos a seguir o pedido da senhora - «a las doce en casa, chicos!» (repetir em voz alta, num volume baixo mas da forma mais esganiçada possível). Chegados, dormidos, fugidos dali rapidamente às oito da manhã. Para Chiloé, Patagónia insular.
3 comentários:
E os pinguins?!
O Sanchinho fica giro equipado de alpinista ....
A 1ª musica foi brilhantemente escolhida .. vou-me lamentar até ao fim dos meus dias por ter perdido o concerto aqui no Rio
Não vamos falar de The Killers que também perdi o concerto deles cá. Qué chucha huevada!
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