7 Meses na América do Sul

A PUC de Santiago, o Direito chileno, o pisco e as empanadas, os Andes, o Pacífico, a Sudamérica, Rapa-Nui ... enfim, La Libertad.


26.9.07

30 dias

Um estrangeiro com visto de permanência no Chile tem 30 dias para pedir a Cédula de Identidad, ao qual corresponde um número - o RUT. Se não, é expulso.

Não, não é. Tem é de ir a um Ministério em vez de ir ao Registro Civil apenas. Se calhar até era mais rápido. Hummmm... Adiante.

Estávamos a 7 de Setembro. Fazia 30 dias certos que tinha chegado. Já tinha despachado o registo do meu visto na Policia Internacional, pelo que pude seguir directo para o Registro Civil. Ainda bem, era já uma da tarde e todos os serviços públicos fecham as duas cá.

Vá de correr para o autocarro com dois pacotes de Nesquik na mão. O 501 deixa-me no centro e depois é coger a Calle Moneda para Oeste. Não há muito tempo para pensar, deixa-se o telemóvel e uns trocos em cima da mesa. Que venha a carteira e o passe, e umas notas para pagar o visto.

O sol bate de chapa no autocarro, as pessoas vão de espírito solto e sorriso convidativo. Até parece que é fim-de-semana de Verão tal a alegria e o calor que pairam no ar. Apesar desta leveza, as pessoas estão concentradas a ouvir a radiola que o motorista leva lá à frente, aos altos berros, com o som já distorcido. A selecção chilena de futebol estreia-se hoje sob o comando de Marcelo Bielsa, argentino duro, em quem os chilenos confiam que ponha ordem no balneário e a equipa a jogar futebol. Isto depois do escândalo alcoólico, sexual e de indisciplina em que se tornou a eliminação do Chile na última Copa América.

Quando entrei no autocarro sabia que o Chile ia a ganhar, depois da festa que os vizinhos fizeram com o golo. A meio da viagem a Suiça empata. Da maneira que os narradores chilenos noticiaram o golo parecia que queriam que El Loco Bielsa se estreasse a perder, como todos os técnicos da selecção chilena que fizeram o seu primeiro jogo no estrangeiro. Mas não. Golo, cá, é golo, é festa, seja de quem for.

O ânimo não foi muito afectado. De roupa ligeira e cara descontraída seguiram as pessoas. E eu também, porque não?

Lá chego ao registo. Faltavam fotocópias (vá lá que levava os documentos todos!), «y va al tiro que sólo tiene diez minutos antes que cerremos». Lá fui tirar - custavam 120 pesos (cerca de 18 cêntimos), e eu só levava uma nota de 10 lucas, quase 14 euros. Fiquei a dever. Boa hospitalidade chilena, a paz de alma prossegue hoje.

Na hora e vinte que fiquei de pé na filinha ziguezague - aqui e nos bancos não há senhas - deu para ver o fim do jogo. 2-1, ganhou a Suiça. El Loco não quebrou a tradição e a estreia da nova Roja não correu bem. Haveria de ganhar, uns dias depois, à Áustria. No final, noticiário da tarde. Notícia seguinte à da selecção - Maddie. É impressionante as manchetes de jornais e o tempo de antena que tem ocupado o desaparecimento/falecimento da Maddie no Chile. Ninguém, cá, acredita que os pais tenham alguma coisa a ver mas, na televisão, a polícia portuguesa dá a mãe como suspechosa.

Lá me atendem, simpaticamente. Tiram-me a fotografia com as máquinas digitais ligadas aos computadores. Até a assinatura é digitalizada por uma máquina. Tudo do melhor. Lá me rio para o passarinho e o ar de parvo é notório. Depois tiram-me as 10 impressões digitais - não uma. Parece sensato; para quê só o polegar direito se podes ter todos? Entretanto sou filmado para alguma coisa - estrela de documentário no Chile? Não sei se quero, tenho de ligar ao meu agente. Bom, lá me dão o RUN, papel e números prvisórios do RUT (que vou buscar amanhã, 27 de Setembro), e ponho-me a andar, cheio de fome e sede.


[ar de parvo a rir; olho esquerdo meio aberto meio fechado]

Qual turista, tinha levado o guia - sim, este mesmo - para me entreter enquanto esperava. É que homem prevenido vale por mil e quinhentos, diz este senhor. O Barrio Brasil é mesmo aqui ao lado. O que é se passa aqui? Bairro calmo de dia, com o centro na Plaza Brasil; boémio de noite, com a discoteca Blondie a marcar o ritmo. Avisado pelo fiel Planeta Solitário, páro no Peperone, na esquina da Plaza Brazil, onde como as melhores empanadas que já comi no Chile - uma de espinacas e outra de queso camarón, regadas com uma Kuntsmann Lager. A decoração é de café boémio, perdido em cidades europeias dos meados do século passado. Paris, talvez. Hei-de lá voltar para tirar fotografias.


Daqui sigo a pé até ao centro, Santa Lucia, o que ainda é bastante. Apanho o metro, e como se não estivesse cansado, ando mais uns kms desde a estação de Pedro de Valdívia para minha casa. Não sem antes passar numa livraria simpática, na Av. Providencia.

O trigésimo dia não teve uma trigésima noite. Ou melhor, teve, mas foi em casa a ver filmes, descansadinho, com um copo de vinho e pipocas. Há coisas que até combinam. Como Santiago e eu.

PS - os caminhos e os sítios referidos neste post já estão identificados no mapa de Santiago aqui ao lado; dêem uma olhada

3 comentários:

Anónimo disse...

Comentário rápido: o Manuel Maria nunca tem ar de parvo!

Anónimo disse...

Pois é, é verdade.

Folgo em saber que trataste das tuas obrigações legais dentro do prazo.

Abraço.

Anónimo disse...

a mim tambem me tiraram impressoes aos dedos todos ... perguntei o porquê disso.
A resposta foi "se for assassinado e lhe cortarem os dedos, temos todos digitalizados".
Fiquei contente com a justificação e fui-me embora.
Beijinhos garota do Rio