Sentido de humor apurado ou a necessidade de nos agarramos a este Mundo?
O hostel em que ficámos em Ushuaia, depois de uma nega e de algumas voltas pelo traçado rectangular da cidade, chama-se Yakush. O nome, da língua nativa da Tierra del Fuego, já ninguém sabe o que quer dizer. Lá dentro, nas paredes coloridas, lê-se, entre outras frases "el fin es el princípio" e "el mundo está al revés". Paradigmático, o globo terrestre na recepçäo foi alterado para que o hemisfério sul esteja na parte de cima.
Ostenta-se orgulhosamente o título de cidade mais a sul do Mundo. Ou simplesmente O Fim do Mundo.
O ambiente na rua é de vilazinha nas montanhas, uma estância de ski. As pessoas estäo encasacadas e chamar Veräo a isto só pode ser uma piada. Para cenário de Alpes ou Pirinéus falta, contudo, a neve atirada pelo chäo e a marca de óculos no bronzeado da cara. A atmosfera é de aventura. Afinal, a Antártida está aqui a dois passos (e uns milhares de dólares), e tanto na Tierra del Fuego como na Isla Navarino (a sul, território chileno), têm muito para descobrir.
Nós fizemos a nossa parte, com um trekking de três horas no último dia do ano, no Parque Nacional da Tierra del Fuego, por entre lagos e florestas, com montanhas cobertas de neve no topo. Um aperitivo para Torres del Paine. Esticamos as pernas, calibra-se as máquinas fotográficas (especialmente a reflex do meu escudeiro Bessa), começamos a viver a Natureza e a tentar libertar-nos do ar condicionado e pegajoso das 50 horas em autocarro que nos trouxe até aqui.
No hostel, e em geral, somos dos mais novos. Somos os mochileros pendejos ["pendejo" é caläo castelhano com vários sentidos, entre eles o mais suave é "putos com a mania que sao espertos"], segundo o dono do hostel, e fugimos ao mercado que ele procura para o Yakush. A verdade é que somos dos mais animados, conseguindo mesmo descontrair a responsável pelo hostel na noite de Fim de Ano e fazer com que viesse sair com todos. O Fim do Ano no Fim do Mundo foi uma festa da globalizaçäo, tendo dito Feliz Ano Novo em várias línguas, desde o português de Portugal e do Brasil ao croata, passando pelos óbvios inglês, castelhano, francês, italiano, entre outros. Buon Anno! Feliz Año Nuevo! Bon Année! Happy New Year!
Uma equipa no nosso hostel realiza um documentário para uma televisäo croata. Nas ruas toca-se e faz-se barulho. Os hostels convertem-se em discotecas. Os paquetes ancorados no porto, cheios de americanos, buzinam para o ar. É festa como em outro lado qualquer, mas aqui as pessoas parecem agarrar-se mais à necessidade de festejar. Como precisam de se agarrar à Terra, já que estamos täo a sul que estamos de pernas para o ar. Ou entäo, estamos täo seguros que mais parece que estamos nós no topo do Mundo. Já näo éramos portugueses, de tanto falar e festejar noutras línguas. Fazíamos parte de uma massa enorme, de uma força imparável que anima os mais intrépidos e audazes a romper barreiras e a fazer-se à estrada por esse mundo fora. Como no globo do Yakush, o Mundo estava ao contrário. E nós estávamos lá em cima, felizes, quase (!) desligados dos milhares de quilómetros que nos separam daquilo a que até há pouco tempo nos habituámos a chamar de casa.
O hostel em que ficámos em Ushuaia, depois de uma nega e de algumas voltas pelo traçado rectangular da cidade, chama-se Yakush. O nome, da língua nativa da Tierra del Fuego, já ninguém sabe o que quer dizer. Lá dentro, nas paredes coloridas, lê-se, entre outras frases "el fin es el princípio" e "el mundo está al revés". Paradigmático, o globo terrestre na recepçäo foi alterado para que o hemisfério sul esteja na parte de cima.
Ostenta-se orgulhosamente o título de cidade mais a sul do Mundo. Ou simplesmente O Fim do Mundo.
O ambiente na rua é de vilazinha nas montanhas, uma estância de ski. As pessoas estäo encasacadas e chamar Veräo a isto só pode ser uma piada. Para cenário de Alpes ou Pirinéus falta, contudo, a neve atirada pelo chäo e a marca de óculos no bronzeado da cara. A atmosfera é de aventura. Afinal, a Antártida está aqui a dois passos (e uns milhares de dólares), e tanto na Tierra del Fuego como na Isla Navarino (a sul, território chileno), têm muito para descobrir.
Nós fizemos a nossa parte, com um trekking de três horas no último dia do ano, no Parque Nacional da Tierra del Fuego, por entre lagos e florestas, com montanhas cobertas de neve no topo. Um aperitivo para Torres del Paine. Esticamos as pernas, calibra-se as máquinas fotográficas (especialmente a reflex do meu escudeiro Bessa), começamos a viver a Natureza e a tentar libertar-nos do ar condicionado e pegajoso das 50 horas em autocarro que nos trouxe até aqui.
No hostel, e em geral, somos dos mais novos. Somos os mochileros pendejos ["pendejo" é caläo castelhano com vários sentidos, entre eles o mais suave é "putos com a mania que sao espertos"], segundo o dono do hostel, e fugimos ao mercado que ele procura para o Yakush. A verdade é que somos dos mais animados, conseguindo mesmo descontrair a responsável pelo hostel na noite de Fim de Ano e fazer com que viesse sair com todos. O Fim do Ano no Fim do Mundo foi uma festa da globalizaçäo, tendo dito Feliz Ano Novo em várias línguas, desde o português de Portugal e do Brasil ao croata, passando pelos óbvios inglês, castelhano, francês, italiano, entre outros. Buon Anno! Feliz Año Nuevo! Bon Année! Happy New Year!
Uma equipa no nosso hostel realiza um documentário para uma televisäo croata. Nas ruas toca-se e faz-se barulho. Os hostels convertem-se em discotecas. Os paquetes ancorados no porto, cheios de americanos, buzinam para o ar. É festa como em outro lado qualquer, mas aqui as pessoas parecem agarrar-se mais à necessidade de festejar. Como precisam de se agarrar à Terra, já que estamos täo a sul que estamos de pernas para o ar. Ou entäo, estamos täo seguros que mais parece que estamos nós no topo do Mundo. Já näo éramos portugueses, de tanto falar e festejar noutras línguas. Fazíamos parte de uma massa enorme, de uma força imparável que anima os mais intrépidos e audazes a romper barreiras e a fazer-se à estrada por esse mundo fora. Como no globo do Yakush, o Mundo estava ao contrário. E nós estávamos lá em cima, felizes, quase (!) desligados dos milhares de quilómetros que nos separam daquilo a que até há pouco tempo nos habituámos a chamar de casa.
1 comentário:
oh Manel, não caia do mundo abaixo, please, que nos ia fazer muita falta!
E tenho lido nas entrelinhas... já percebi que virá cheio de independências, animado dessa "força imparável que anima os mais intrépidos e audazes a romper barreiras e a fazer-se à estrada por esse mundo fora"...
Já me estou a tentar fazer à ideia das próximas viagens!
Beijinhos da mãe, cheia de saudades e um pouco de i-n-v-e-j-a
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