7 Meses na América do Sul

A PUC de Santiago, o Direito chileno, o pisco e as empanadas, os Andes, o Pacífico, a Sudamérica, Rapa-Nui ... enfim, La Libertad.


25.10.07

IV. Alto e Plano

Faixa 06. Xavier Rudd - Fortune Teller

Altiplano. Alto e plano. Isso do plano faz sentido se nos quedarmos quietinhos no nosso hostel ou apenas por San Pedro de Atacama. Se nos pomos em aventuras de mountain bike, de ir aqui e ali à descoberta, o deserto deixa de ser plano. Mas o que é que tínhamos cá vindo fazer então? Este parece ter sido o mote que nos guiou a viagem toda.

Ah e sim, já tínhamos um hostel. Depois do nascer do sol [a expressão pôr-do-sol teima em aparecer no computador; porque é que o nosso cérebro se confunde tanto?], depois da luz surgir, lá fomos em busca de um hostel. De guia em punho - já não preciso de por o link, pois não? - aliás, com dois ou três guias iguais (iguais!) em cada carro, lá nos separámos e corremos todos os hostels. Ou quase. À hora a que tínhamos chegado as pessoas saíam para excursões e avisavam os dueños das residenciais se ficavam ou não mais uma noite. Assim que íamos tendo as respostas mais variadas; «no, estamos llenos (ou cartaz equivalente à porta); si, lo temos, pero solo para tres/cuatro/cinco personas; si, creo que si, tendrá que llamar al mediodia»; fomos até recebidos por uma senhora de pijama! Os preços variavam entre cinco e quinze lucas por noite - de sete a vinte e um euros, portanto.

Lá encontrámos a Residencial Don Raúl, que ficou de nos «llamar al medidodia». Mas que sim, devia ter, e a «ocho lucas por noche». Menos mau. Satisfeitos, lá nos encontrámos para o pequeno-almoço. A refeição mais importante do dia, lá dizem os sábios. E fizemos com que fosse - torradas, panquecas, ovos, leite, chá, café. Tudo para que saíssemos de lá satisfeitos. Começámos antes das nove e quase ao meio-dia ainda lá estávamos quando nos ligaram da Don Raúl, não o próprio señor mas outro, para nos dizer que tínhamos duas cabanas de cinco à nossa espera. Uma pronta à uma da tarde e outra às quatro. Bom, não dava para todos dormirmos, e também não tínhamos vindo cá para isso, portanto vá de dar uma volta.

Escolhemos ir fazer sandboard ao Valle de la Muerte. Nome apropriado para uma parte da Cordilheira do Sal, onde montanhas arenosas, também conhecidas por dunas, criam descidas óptimas para o sandboard (nada que saber, snowboard em areia...). Quando quase todos escolheram ir de jipe, três corajosos (parvos?) decidem alugar uma bicicleta. Escusado será dizer que era um deles, mais o Diogo e o João. Ah, obrigado ao João por termos dado uma volta gigante e ter-me levado a pensar que nunca mais recuperaria a sensibilidade nas pernas. De qualquer maneira, mais volta menos volta, lá demos com o vale e suas dunas. Impressionante. Ainda para mais quando não há cadeirinhas para trepar até lá acima. Ao fim de algum tempo lá chega a minha vez, cortesia de uns espanhóis que me emprestam a sua prancha. E se tenho pouco jeito para snowboard, para sandboard então... Depois de subir durante uns cinco minutos (que me fez lembrar uma odisseia narrada aqui) até ao topo e encerar a prancha com uma vela ridícula cheia de areia (!) lá consegui a proeza de me manter 5 segundos de pé. O suficiente para tirarem uma fotografia em que estou mais ou menos parecido com o desenho aqui em baixo. [quando me chegar às mãos, substituo]


[eu, mero esboço de sandboarder, a descer com o cachecol de Portugal - sempre! - e o boné (!) para trás a dar alguma - falsa - sensação de velocidade]

Depois de uma experiência (desapontante? manhosa?) de "prancha na areia" decidimos passar un rato da tarde numas lagunas. O tempo não quis que aproveitássemos as lagoas e decidiu fechar-se, arrefecido e cinzentão. Só que tive que ir dar um mergulho. Tive e tivemos. É que uma das Lagunas Cejar tem uma curiosidade; no centro tem um fundo azul turquesa (não, não é da cor da água), que se distingu claramente do resto da lagoa. Aí, apesar de a água ser fria, o chão larga vapor de água e enxofre e quem estiver lá em cima a nadar aquece. Ou melhor, assa. Era impossível ficar lá muito tempo - para lá do choque térmico de gelo cá fora e dezenas de graus a serem empurrados pelo núcleo da Terra cá para fora. Melhor, melhor é ir descansar outro rato para o hostel, passar uma noite tranquila e preparar que amanhã há mais. Isto não sem antes passar pela experiência da feirinha instalada numa das saídas de San Pedro de Atacama. Segunda-feira, dia 17, já lá vai e amanhã há mais. E é "O" 18, o feriado nacional.



[basicamente funciona assim - está um rato dentro de uma caixa de sapatos, que vai ser empurrado para uma mini arena onde tem sete saídas; a cada uma delas corresponde um prémio (tão diversos como lata de milho, garrafa de pisco, pacote de batatas, etc.);
quem adivinhar por qual o rato vai passar ganha o respectivo prémio;
calhou ao Mico, porta 2 - dá para ver o rato já lá dentro]

Faixa 07. The Killers - Read My Mind

Manhã tranquila, dormir bem, dar umas voltas pela cidade. Tarde turística pelo Valle de La Luna, um parque nacional em plena Cordilheira do Sal. Paisagens áridas, lunares, mas espectaculares - rima inevitável. Sempre com a companhia da nossa nova amiga Marine, francesa que se juntou ao grupo tuga no Valle de la Muerte. Desde as grutas de sal, às formações rochosas e ao pôr-do-sol [agora sim!] nas montanhas, vou deixar as fotografias falar por si.


[nas grutas não há luz; íamos tirando fotografias para ver o caminho;
ou para iluminar o artista que ia atrás]


[arte, com Las Tres Marias por trás;
da esquerda para a direita; Manel, Diogo, Mico, Bernardo, Gonçalo C., Miguel, Tomaz, Gonçalo M., Marine, João;
homenagem ao Chico, que ficou para cameramen]


[a caminho do mirador 1, o melhor para ver o pôr-do-sol;
do primeiro plano para o fundo, Gonçalo C., Marine, Miguel, João, Gonçalo M., Mico, Bernardo, Diogo;
o Chico e o Tomaz não tiveram coragem para subir a este e foram ao mirador 2]



[o melhor pôr-do-sol de Valle de la Luna;
mereceu palmas, claro, que somos tugas]


[o lado lunar de Valle de la Luna]

À noite, a noite do 18, convidámos amigos da PUC de Santiago para jantar, para além da já "luso-francesa" Marine. Apareceram o Trevor e a namorada Coleen (?), dos EUA e, mais tarde, as minhas housemates da Casa Suecia, Britta e Ella (alemãs). Jantar animado e em seguida fiesta no Adobe, café/restaurante/bar/discoteca com uma fogueira no meio, para aquecer. É verdade, é que à noite faz frio, muito frio, no deserto.


[a começar da esquerda, seguindo os ponteiros do relógio;
Gonçalo C., Colleen (?), Gonçalo M., Diogo, Mico, Marine, Tomaz, Manel, Miguel, Chico, João, Trevor (também conhecido por Clark Kent)]

Faixa 08. Vico C - La Vecinita

O reggaeton acompanha-nos cá no Chile, seja em Santiago ou em San Pedro de Atacama. Além disto, o Tomaz tinha esta música na cabeça e não a parava de cantarolar. Assim, como se disponibilizou para nosso condutor, depois da noite, para os Geysers de El Tatio (duas horas de viagem) merecia esta música.

Música latino-americana de qualidade duvidosa à parte, fica aqui, outra vez em imagens, o retrato desta alvorada de quarta-feira, 19 de Setembro de 2007.


[a essência de El Tatio;
ah, estavam -10º C]


[o sol surge por detrás dos Andes, como sempre cá, para nos aquecer]


[lamas!;
sem mais palavras - aquilo a que 99% das pessoas em Portugal associam o Chile]

Chegando de manhã ainda ao hostel cochilamos um pouco. Fazemos as malas e está na hora de começar o regresso a Sul, à inevitável capital. E é aqui que a viagem se transfigura, pois o grupo tuga separa-se em dois. Jipe verde (Mico, Chico, João e Gonçalo C.) vai seguindo directo. Jipe cinzento (Bernardo, Tomaz, Gonçalo M., Miguel, Diogo e Manel) tranquilamente entra pelo Salar de Atacama, volta a San Pedro, e depois logo se vê. Curiosamente, apesar de termos passado pouco mais de 48 horas juntos, a despedida da Marine foi bastante emocional. Para ela, claro, mas para nós também ficou um sentimento esquisito. Habituámo-nos tanto à sua presença que já era "um dos rapazes". Mas o Perú e a Bolívia esperavam por ela e a nós o quotidiano de Santiago.


[os Andes e o deserto vistos da Laguna Chaxa, da Reserva Nacional de Los Flamencos, em pleno Salar de Atacama]


PS - não tirei nenhuma fotografia de dia de San Pedro de Atacama, mas elas andam aí, na net e em máquinas de tugas de cá; é uma questão de paciência.

2 comentários:

Anónimo disse...

Estava difícil!
Mas agora vê lá se continuas com algum ritmo, que eu quero saber das próximas duas semanas!hehe
Mas falando asério, tou a gostar muito do diário de bordo, apesar de já ter visto as 1000 fotografias 2 vezes e de ja ter ouvido um "resumo"...

Beijinhos,

ANDRÉ SOUSA BESSA

Rodrigo disse...

Olá Manu!
Estou saíndo agora (daqui meia hora) para o Atacama, e pesquisando pela internet por sandboard no Atacama encontrei esse blog. Já botei no favoritos.

Também temos um blog para a nossa viagem que se inicia hoje. Veja lá em http://unoencadalugar.blogspot.com/

Abraço,

Rodrigo