Noite mal dormida, frio que se faz sentir em cada centímetro de pele. Porquê o sacríficio, porquê o afastar do conforto, porquê não deixar só a mera existência passar por nós, porquê a insistência em ir lá fora viver?
O sono desaparece com o gelo, primeiro toque do gelo, este primeiro como adjectivo da água do duche. O quente não é suficientemente quente.
O primeiro contacto com os portugueses. Entusiasmo pela jornada que começa. O grupo é grande, vária é a experiência de neve.
39 curvas. Curvas de 180º, com forte inclinação. 1.30h, que se transformam em duas, e chegamos a Valle Nevado.
A aula de snowboard, incluída no pacote da viagem, é despachada num terço do tempo previsto. «Vocês já sabem fazer, podem ir». A alegria de descer as pistas e sentir, mas não sentir, o frio. Ele está lá, mas a adrenalina, a concentração, a antecipação das manobras, fazem com que não esteja. E fazem com que valha a pena ser mais do que só uma existência nesta Terra, nesta Sudamérica.

Descansa-se e desce-se mais pistas. Vive-se mais.
Acontecimento fortuito - trocam a minha prancha, desaparece. Alerta-se a polícia e a loja de equipamento. «Está uma parecida nos suportes de onde desapareceu a tua? Usa essa, não te preocupes» Espírito tranquilo, mas também prático, já que 90% do material nas pistas deve ser desta loja, tudo lá irá parar
Mais um tempinho, mais pistas, mais vontade de viver. E voltar.
No fim do dia, com o Sol já fugido dos Andes para o Mar, o cansaço acumulado não impede o sorriso nos lábios meio gretados, e a cabeça livre. De certeza que volto. Afinal, são só 39 curvas.
1 comentário:
Longe da vista, longe da preocupação? É um bocadinho verdade! Tento não ler nas entrelinhas as possibilidades menos boas, e concentrar-me só nas felizes... é um exercício por vezes difícil! Boa, Manel, insista em "ir lá fora viver"!!!!
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