7 Meses na América do Sul

A PUC de Santiago, o Direito chileno, o pisco e as empanadas, os Andes, o Pacífico, a Sudamérica, Rapa-Nui ... enfim, La Libertad.


9.8.07

Sair do ninho

Dizem que a família são os amigos que Deus escolheu para nós e que os amigos são a família que nós escolhemos.
A ideia, penso, é a de realçar a importância dos amigos.
Pudesse ter escolhido, a minha família seria a que tenho. Nem mais uma pessoa nem menos. As forças e fraquezas de todos revelam-se tão claramente em tudo o que fazemos em grupo, que às vezes parece que estamos a brincar com as pessoas e as famílias que se esforçam para mostrar uma coesão que provavelmente não existe.

Isto a propósito da saída de Lisboa. No limite do tempo, com coisas deixadas em casa por esquecimento - como sempre! - discussões surdas pelo meio suavizadas com um beijinho ou um afago na cabeça. Os nervos à flor da pele. O filho - um pródigo mais velho - prepara-se para fugir para a América do Sul por 7 meses. Muito tempo.

Chegar ao aeroporto.
A mãe, com a ansiedade a fugir-lhe pelos cabelos brancos, poucos, que já tem, as mãos a contorcerem-se. Mas ninguém dá por nada, forte como sempre. Parece que me está a levar ao Colégio, e que às cinco da tarde estou em casa estou em casa a ver o Dragon Ball. Não mãe, não vou estar.
A irmã mais velha, sabedora, experiente, lá resolve o peso a mais da bagagem. Abre-se mochilas, malas, sacos de plástico. Feira de ciganos. A roupa da neve salta. Discretamente passa umas notas para o bolso do irmão que indecentemente foge para longe, notas que fazem falta mas ele precisa mais. Não Constança, não preciso.
A irmã mais nova alterna entre a piadinha para quebrar o não sei quê que nos esmaga o coração e as lágrimas. Habituados à palhaçada desde pequeninos, e às discussões, sempre funcionaram como anjos da guarda um do outro. E agora? O irmão vai fazer-lhe falta. Não Mariana, não vou. Não tanto.
A avó representa a família do pai. O chauffeur leva-a ao aeroporto. O neto, o orgulho, que se arma em Che Guevara, e a avó perdoa-lhe e vai despedir-se em pessoa. Ande bem vestido, lembre-se dos contactos do avô - ah o avô, que vai ter tantas saudades - não se esqueça de ir à embaixada. Não avó e avô, não esqueço.
O cunhado, a família que cresce. Calmo, sorriso nos lábios, observa a cena. Compreende a importância, quase solenidade, da despedida, mas está um pouco de fora. Diverte-te, aproveita bem! Não Carlos, não vou!
A sobrinha chora, reclama atenção. O aeroporto ou outro sítio qualquer. As pessoas que passam. Uma cara conhecida que lhe dá um beijinho e lhe diz que volta daqui a uns meses - o que são meses? Não Teresa, não vais ter saudades, claro.
O tio, mais experiência de mundo ainda. O conselho mais sábio. A objectividade. O aproveitar das oportunidades. Para o sobrinho que se vai, a importância da sua presença, e da sua voz. Não tio, não vou deixar fugir as oportunidades.
O pai controla pelo telefone. Não pode lá ir, amargura um pouco com o dinheiro que se gasta, que se lhe foge. Mas ajuda, empurra decididamente o filho para a aventura. Sem isto não haveria chile-out. Um pouco surpreso com a força que o pai acaba por dar, por voltas que dê, o filho deixa-se ir. Não pai, não me vou esquecer.
O irmãos não estão em corpo. Estão em espírito. Pelo menos no meu. Sim Goga, vai ter de ser o homem da casa.

Peripécias que não param. A pasta do portátil que fica na Vodafone do aeroporto. Ligam-me para o telemóvel - não deixou ca nada? Já tinham evacuado a loja, seguranças de colete pegam na pasta - com as mãos, assim?! - e o portátil novo que ficava em Lisboa.

Vamos então. É a hora. Abrir as asas e saltar para o mundo.

1 comentário:

mariana cordeiro ferreira disse...

muito bem, agora nao vale a pena ler o harry potter...OBRIGADO!!!
muito bag packer pa so 2 dias!!
nao fique um cubinho de gelo..beijinhos mariana

ola manolo, é a mãe dos cabelos brancos! então é o inverno mais frio dos últimos 30 anos no chile? a roupinha que cá ficou vai fazer falta... pode não acreditar, mas tenho visto bocadinhos de dragon ball, (pouco de cada vez, q não aguento muito!), como fazia quando eram pequenos, para tentar manter-me a par dos nomes dos personagens... beijinhos da mãe