Como me conhecem, sabem que, apesar de ter um ar aparentemente calmo e de privilegiar a racionalização das coisas, sou uma pessoa emotiva. Um falso racional, se calhar, não sei.
Já longe vão os tempos de nervos à flor da pele, de chorar quando perdia um jogo do que quer que fosse. Mas, por exemplo, essa raiva surda mantém-se, é é canalizada de forma mais saudável. Cresci, simplesmente. Ainda existem, contudo, alguns ataques ou explosões. Aquilo a que a avó chama "a revolta do manso".
A emoção continua cá dentro. Não se manifesta em chorar a ver filmes, mau grado o ocasional nózinho da garganta. Pelo contrário, até me emociono mais a ler livros. Provavelmente, a minha imaginação leva-me a construir os cenários nos quais as cenas descritas se realizariam, sempre com o dramatismo ampliado.
É esta emoção que me aquece o coração e que às vezes também o gela. E o aperta forte. Sobretudo com mortes públicas. Lembro-me de pequeno me recusar a aceitar a morte do Ayrton Senna, sentado na sala dos netos, na longíqua casa dos avós no Restelo. De me comover com a morte do Fehér, na altura em que também escrevia um blog. Não de chorar, mas de ficar sem palavras. Do Marc Vivien Foe, até pela impressão que retive dos olhos já sem vida fixos no céu. Até do Sousa Franco. E agora, com a do jogador do Sevilha Antonio Puerta.
Não gosto de pensar na morte como não gosto de pensar no nada, ou no Universo. São coisas que me ultrapassam, e que nunca entenderei. Concentro-me mais na vida. No máximo, na efemeridade da vida.
No filme The Hours, imputa-se a Virginia Woolf a seguinte frase «Someone has to die in order that the rest of us should value life more. It's contrast. ». Deste contraste é suposto retirarmos lições; de reconhecermos a efemeridade da vida deverá nascer a vontade de a aproveitar ao máximo. Sermos melhores pessoas, quizás. Vivermos a vida ao limite, sem ligar a quaisquer fronteiras ou barreiras, para outros.
Para mim, a efemeridade obriga-me a repensar os passos que dou, certo. De deixar-me de adiar as minhas ideias e começar a concretizá-las, claro.
Só que esta semana voltei a lembrar-me, com a morte do Puerta, que afinal a nossa própria efemeridade, nesse sentido de lição de vida com a morte dos outros, só serve para nós. O que me custa, e que faz doer a vida que existe neste 1,65m de gente, é como a nossa efemeridade afecta os outros.
O Puerta deixou família, amigos e uma namorada/mulher, grávida de 7 meses. Tinha 22 anos. Chocou o mundo a sua morte pública. Choca-me a mim, também, mas sinto mais forte cá dentro os sonhos conjuntos que deixam de ser concretizados com outras pessoas. Dói-me a dor dos outros, basicamente. Nestas e em muitas outras coisas que vejo. Como as caras tristes, oblívias, que vejo no metro ou nas ruas, cuja vida parece-me não ser mais que uma rotina cinzenta, sem destino ou mesmo alegrias. Como a pobreza endémica a esta Sudamérica.
Lamechas, rídiculo, infeliz? Não me considero nada disto, mas também não tiro nenhuma lição daquilo que, afinal, sinto com mortes trágicas, nuas, desnecessárias.
Já longe vão os tempos de nervos à flor da pele, de chorar quando perdia um jogo do que quer que fosse. Mas, por exemplo, essa raiva surda mantém-se, é é canalizada de forma mais saudável. Cresci, simplesmente. Ainda existem, contudo, alguns ataques ou explosões. Aquilo a que a avó chama "a revolta do manso".
A emoção continua cá dentro. Não se manifesta em chorar a ver filmes, mau grado o ocasional nózinho da garganta. Pelo contrário, até me emociono mais a ler livros. Provavelmente, a minha imaginação leva-me a construir os cenários nos quais as cenas descritas se realizariam, sempre com o dramatismo ampliado.
É esta emoção que me aquece o coração e que às vezes também o gela. E o aperta forte. Sobretudo com mortes públicas. Lembro-me de pequeno me recusar a aceitar a morte do Ayrton Senna, sentado na sala dos netos, na longíqua casa dos avós no Restelo. De me comover com a morte do Fehér, na altura em que também escrevia um blog. Não de chorar, mas de ficar sem palavras. Do Marc Vivien Foe, até pela impressão que retive dos olhos já sem vida fixos no céu. Até do Sousa Franco. E agora, com a do jogador do Sevilha Antonio Puerta.
Não gosto de pensar na morte como não gosto de pensar no nada, ou no Universo. São coisas que me ultrapassam, e que nunca entenderei. Concentro-me mais na vida. No máximo, na efemeridade da vida.
No filme The Hours, imputa-se a Virginia Woolf a seguinte frase «Someone has to die in order that the rest of us should value life more. It's contrast. ». Deste contraste é suposto retirarmos lições; de reconhecermos a efemeridade da vida deverá nascer a vontade de a aproveitar ao máximo. Sermos melhores pessoas, quizás. Vivermos a vida ao limite, sem ligar a quaisquer fronteiras ou barreiras, para outros.
Para mim, a efemeridade obriga-me a repensar os passos que dou, certo. De deixar-me de adiar as minhas ideias e começar a concretizá-las, claro.
Só que esta semana voltei a lembrar-me, com a morte do Puerta, que afinal a nossa própria efemeridade, nesse sentido de lição de vida com a morte dos outros, só serve para nós. O que me custa, e que faz doer a vida que existe neste 1,65m de gente, é como a nossa efemeridade afecta os outros.
O Puerta deixou família, amigos e uma namorada/mulher, grávida de 7 meses. Tinha 22 anos. Chocou o mundo a sua morte pública. Choca-me a mim, também, mas sinto mais forte cá dentro os sonhos conjuntos que deixam de ser concretizados com outras pessoas. Dói-me a dor dos outros, basicamente. Nestas e em muitas outras coisas que vejo. Como as caras tristes, oblívias, que vejo no metro ou nas ruas, cuja vida parece-me não ser mais que uma rotina cinzenta, sem destino ou mesmo alegrias. Como a pobreza endémica a esta Sudamérica.
Lamechas, rídiculo, infeliz? Não me considero nada disto, mas também não tiro nenhuma lição daquilo que, afinal, sinto com mortes trágicas, nuas, desnecessárias.
2 comentários:
Bebe uma canha ....
Bebe antes duas ou três...
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